Lá estava eu sozinha, envolvida pelo som da chuva na janela,
pelo som do inverno que atacava a cidade. Tinha a lareira acesa e tapava-me com
a manta do cão. Tinha um odor insuportável, mas a minha estava no outro
cadeirão e a preguiça apoderava-se de mim.
A casa estava assustadoramente silenciosa, nada se passava,
e eu, enroscada na manta nojenta do cão, lá estava, apreciando a melancólica manhã
de 4 de Janeiro. O som da campainha ecoa pela casa, estremecendo nos meus ouvidos, e Isabel, a preta que os meus pais contrataram para andar pela casa a limpar (vadiar), correu apressada para abrir a porta.
- Bom dia minha senhora. Bom dia doutor. Bons dias menino.
Menino? Tinha a aparente visita de um “menino” e andava ai
de pijama, sem soutien. Que aspeto hediondo que darei.
- Marta, querida, vai la a cima tomar um duche meu amor,
temos a visita de um primo que esteve com os pais no Brasil e veio conhecer-nos,
passar por cá uma temporada, mas eu já te explico com o pai. Vai vestir-te. Dá-me
um beijo, acabei de chegar.
Primo? Bem nunca tinha ouvido falar de tal pessoa na minha família,
veremos.
Depois do meu duche, que me soube muito bem, cheirava a cão
que metia dó, fui para o quarto, nua escolher o que vestiria. Um primo novo não
se recebe de qualquer forma! Vestido amarelo! Vai achar-me deslumbrante.
- Miguel esta é a Marta, Marta, Miguel.
- Bom dia Marta, sou o filho dos seus tios Manuel e Janaína,
não sei se tu lembras eles.
Não respondi, estava absolutamente deslumbrada, que homem
Santa Maria! E o seu sotaque meio brasileiro meio português, que lindo,
charmoso, olhos verdes, uma barba de sonho, lindo! Absolutamente encantador. Fiquei
fora de mim, completamente congelada e embasbacada.
- Vamos dá um passeio Marta, vamos pegar um papo garota. Com
licença, tia.
- Vamos claro, com licença, mãe.
______ “______
Estávamos apaixonados, primo e prima, com o completo desejo
carnal de se terem, mas não podia! Que pecado este, um familiar! Vivia cá a
pouco mais de um ano e já para lá de seis meses que ele me beijara. Mas neste
dia foi diferente, ele foi diferente.
Os meus pais não estavam em casa, e Miguel chamou me até lá
a cima. Fui, com todo o gosto, ver o que se não fosse meu primo seria o homem
da minha vida.
- Diz Miguel.
- Chega-te aqui.
- Claro que se passa?
E beijou-me, como nunca. Tentei rejeitar.
- Não fuja Marta agente só vamos foder, os teus pais não
estão.
- Miguel estás louco? Não quero nada disso! És meu primo e
sou virgem!
- Cê é virgem? Mais que mulher, vem cá!
E tirou a faca do bolso, ameaçando cortar-me, ameaçando
matar-me… sei lá. E rasgou-me o vestido amarelo. Penetrou-me a vagina,
penetrou-me o ânus, obrigou-me a fazer-lhe sexo oral, a lamber-lhe os testículos.
No fim ameaçou matar os meus pais se lhes contasse e
violar-me até ao dia da minha morte.Nunca mais fui a mesma. Morri.
Joana, não quero um desenho
perfeito, quero sim que alguém se importe. Pela última vez. Dê o meu exemplo a
outras, para que se salvem, para que fujam, para que corram pela liberdade.
Escreva S.O.S. no fim do meu desenho e coloque nomes fictícios, mas por favor
mantenha a história como a escrevi. Hoje tenho 42 anos, dê-me esperança de que
as outras não ficam caladas.
Lisboa.
Anónimo
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